Apagão, blackout, não importa o nome, ficamos às escuras na noite da terça-feira passada, mais precisamente às 22h10, segundo a minha percepção. O que parecia passageiro, uma simples falha ou corte por manutenção da rede elétrica, mostrou-se um fato de grande alcance em questão de minutos.
Hoje, enquanto a mídia, os políticos e a sociedade em si tentam buscar respostas para o ocorrido, como se o Brasil nunca apagado suas luzes por mais de uma hora, lembro-me perfeitamente dos minutos que passei num ponto de ônibus, à espera de uma condução que me levasse para casa, na companhia de diversos cidadãos e seus celulares.
Não foi preciso ver na televisão ou ouvir pelo rádio que a falta de energia era apenas local. Em cinco minutos, o blackout já estava na Região do ABC Paulista, segundo informava uma moça no momento em que conversava com seus parentes via celular.
Dez minutos depois, mais uma confirmação: a pane atingia toda região metropolitana de São Paulo. Todas as informações que eu tinha até então surgiam num ponto de ônibus, de cidadãos comuns, mais precisamente os universitários e os trabalhadores da região que não viam a hora de chegar em casa.
Em meia hora, já no meu apartamento, recebo uma ligação da minha família, que reside no Espírito Santo. Lá também não havia energia. Portanto, muito provavelmente Rio de Janeiro, Minas e, é claro, todo o Estado de São Paulo, estavam às escuras.
Relembrando: Nada de TV, nem rádio, muito menos internet. Até porque seria impossível.
Alguns minutos depois, mais uma ligação (os celulares funcionavam): uma amiga, cujos pais residem no Paraná, disse que apesar dos cidadãos paranaenses não terem sido atingidos, durante a tarde houve quedas de energia.
Logo então surgiu minha conclusão, talvez fruto do faro jornalístico que supostamente habita em mim: só pode ser Itaipu.
Da sacada do apartamento, escutei outra conversa de celular. O vizinho, que fazia contato com outros amigos, também levantava a hipótese de falha na usina. Tentei encontrar meu fone de ouvido para conectá-lo ao celular a fim de confirmar minha conclusão via Rádio CBN, mas o escuro não permitiu.
Foi na manhã seguinte que todas as histórias de rua, conversas de celular, suposições e palpites foram confirmados, todos, sem exceção, necessariamente nessa ordem. Meus amigos, que trocavam informações, relatos e experiências do apagão, por e-mail e twitter, relatavam o fato de modo assustador.
Contrariando tudo e todos, prefiro ficar com a lembrança da informação às escuras, dos relatos que escutei, da fascinante imagem de São Paulo sem luz, tão calma e calada, como naquela noite.